CONHECENDO GAMES RETRO

sábado, 25 de janeiro de 2020

ESTOICISMO: PARTE 2 - CAPÍTULO 5

A DICOTOMIA DO CONTROLE


Sobre se Tornar Invencível


Nossa mais importante escolha na vida, de acordo com Epiteto, é respeito de nos preocuparmos com coisas externas a nós ou as coisas internas. Muitas pessoas escolhem o primeiro por pensarem que prejuízos ou benefícios têm origem fora deles mesmos.

De acordo com Epiteto, porém, um filósofo - que para ele significa alguém que tem entendimento sobre a filosofia estóica - fará o oposto. Ele perceberá “que todo beneficio e prejuizo vem de si mesmo.” Em particular, ele irá abrir mão das recompensas que o mundo tem a lhe oferecer para que possa obter “tranquilidade, liberdade e calma.”

Ao oferecer este conselho, Epíteto está subvertendo a lógica normal da realização de desejos. Se você perguntar para as pessoas como conseguir satisfação, elas irão te dizer que você deve trabalhar para obtê-la: Você deve conceber estratégias para conseguir realizar seus desejos e então aplicar estas estratégias. Mas como Epiteto nos aponta, “É impossível que a alegria, e o anseio pelo que não está presente, possam um dia estar unidos>” Uma melhor estratégia para conseguir o que você deseja, ele diz, e fazer seu objetivo se apenas querer aquelas coisas que são fáceis de obter - e idealmente querer apenas aquelas coisas que você pode ter certeza que obterá.
Enquanto a maioria das pessoas procuram obter satisfação ao mudar o mundo ao seu redor, Epiteto nos aconselha a obter satisfação ao mudar a nós mesmos - mais precisamente , mudando nossos desejos. E ele não está sozinho em dar este conselho; Na verdade, este conselho é dado por virtualmente todo filósofo e pensador religioso que já refletiu sobre o desejo humano e as causa da insatisfação humana.Eles concordam que se você buscar satisfação, é melhor e mais fácil de mudar a si mesmo e aquilo que você deseja do que mudar o mundo a sua volta.


De fato, diz Epiteto, você se tornará invencível: Se você se recusar a entrar em disputas que pode perder, você nunca perderá uma disputa. O livro de Epiteto se inicia, de forma famosa, com a seguinte afirmação: “Algumas coisas estão em nossas mãos e outras não estão.” Ele dá nossas opiniões, impulsos, desejos e aversões como exemplos de coisas que estão em nossas mãos, e nossas posses e reputação como coisas que não estão.

SEU MUNDO ESTÁ EM SUAS MÃOS
A partir desta afirmativa se segue que nos deparamos com uma escolha nos desejos que formamos: Nós podemos querer aquilo que está a nosso alcance, ou podemos querer aquilo que não está a nosso alcance.


Se quisermos coisas que não estão a nosso alcance, então, iremos algumas vezes falhar em obter o que desejamos, e quando isso acontece, nós iremos “nos deparar com o infortúnio”  e nos sentirmos “frustrados, miseráveis e chateados.” Em particular, Epiteto nos diz que é bobagem querer que nossos amigos e familiares vivam para sempre, já que isso é uma coisa que não temos controle.


Suponhamos que temos sorte, e após querer algo fora de nosso alcance, consigamos obter tal coisa. Neste caso, não acabaremos nos sentindo “frustrados, miseráveis e chateados,” mas durante o período em que queríamos aquilo fora de nosso alcance, provavelmente sentimos algum grau de ansiedade: Já que esta coisa está fora de nosso controle, existe a chance de que não consigamos obtê-la  e isso provavelmente nos preocupou. Portanto querer coisas fora de nosso controle irá perturbar nossa tranquilidade, mesmo que acabemos conseguindo tais coisas. Concluindo, sempre que queremos alguma coisa que não depende de nosso controle, nossa tranquilidade certamente será atingida: Se não conseguirmos o que queremos, ficamos chateados, e se conseguirmos o que queremos, iremos experienciar ansiedade no processo de obter o que desejamos.


Seu desejo primário, diz Epiteto, deveria ser seu desejo de não ser frustrado por alimentar desejos que você não será capaz de realizar. Seus outros desejos deveriam se conformar a este desejo, caso contrário, você deveria fazer o possível para se livrar deles. Se você obtiver sucesso em fazer isso, você não irá mais experienciar ansiedade a respeito de conseguir ou não aquilo que deseja; nem desapontamento em não conseguir o que você quer.


Realmente, segundo Epiteto, você se tornará invencível: Se você se recusar a entrar em desafios que é capaz de perder, você jamais irá perder um desafio. O Manual de Epiteto se inicia, de maneira famosa, com a seguinte afirmação: “Algumas coisas dependem de nós e algumas não dependem de nós.” Ele oferece nossas opiniões, impulsos e desejos e aversões como exemplos de coisas que dependem de nós, e nossas posses e reputação como exemplos de coisas que não dependem.


Dessa afirmação se segue que somos colocados diante de uma escolha em relação aos desejos que criamos: Nós podemos quer coisas que dependem de nós, ou podemos querer coisas que não dependem de nós.


Se nós quisermos coisas que não dependem de nós, então, iremos algumas vezes falhar em obter o que queremos, e quando isso acontecer, nós iremos “nos deparar com o infortúnio” e nos sentiremos “destroçados, miseráveis, e tristes.” Em particular, Epiteto diz, é tolo de nossa parte querer que nossos amigos e parentes vivam para sempre, pois isso são coisas que não dependem de nós.


Suponhamos que tenhamos sorte, e após querer algo que não depende de nós, tenhamos sucesso em obter tal coisa. Neste caso, nós não iremos acabar nos sentindo “destroçados, miseráveis e tristes,” Mas durante o tempo em que cobiçamos esta coisa que não dependia de nós, provavelmente sentimos certo grau de ansiedade: Já que a coisa não depende de nós, existe uma chance de não conseguirmos, e isso provavelmente nos preocupou. Portanto, almejar coisas que não dependem de nós irá perturbar nossa tranquilidade, mesmo que consigamos obtê-las. Em conclusão, sempre que desejamos algo que não depende de nós, nossa tranquilidade provavelmente será perturbada: Se não conseguirmos o que queremos, ficaremos tristes, e se conseguirmos o que queremos, nós sentiremos ansiedade no processo conseguir tais coisas.


Consideremos novamente a “Dicotomia do Controle” de Epiteto: Ele diz que algumas coisas dependem de nós e outras não. O problema com esta afirmação da dicotomia é que a frase “algumas coisas não dependem de nós” é ambígua: Ela pode ser entendida como “Existem coisas sobre as quais não temos controle nenhum.” ou então “Existem coisas sobre as quais não temos completo controle.” Se a entendermos da primeira maneira, nós podemos reafirmar a dicotomia de Epiteto da seguinte maneira: Existem coisas sobre as quais temos completo controle e coisas sobre as quais não temos controle nenhum. Mas afirmada desta maneira, a dicotomia é falsa, pois ignora a existência de coisas em que temos algum controle, mas não total.


Considere, por exemplo, uma vitória minha em uma partida de tênis. Isso não é algo sobre o qual tenho completo controle: Não importa o quanto eu pratique e o quão duro eu tente, eu posso mesmo assim perder uma partida. Mas isso não é algo em que eu não tenha controle total: Praticar muito e tentar duro podem não garantir que irei vencer, mas isso irá certamente afetar minhas chances de vitória.

Minha vitória no tênis é portanto um exemplo de coisa sobre a qual tenho algum controle mas não controle completo. Isso sugere que devemos entender a frase “algumas coisas dependem de nós” da segunda maneira: Nós devemos entender então que existem coisas sobre as quais não temos completo controle. Se aceitarmos essa interpretação, iremos afirmar a dicotomia do controle de Epiteto da seguinte forma: Existem coisas sobre as quais temos completo controle e coisas sobre as quais não temos completo controle. Afirmado desta maneira, a dicotomia se torna genuína. Vamos portanto assumir que era isso que Epiteto queria dizer com “Algumas coisas dependem de nós e algumas coisas não dependem de nós.” 


Agora vamos voltar nossa atenção ao segundo ponto desta dicotomia, para as coisas sobre as quais não temos completo controle. Existem duas formas em que podemos falhar a respeito de ter controle completo sobre algo: Nós podemos não ter controle nenhum sobre algo, ou podemos ter algum mas não completo controle. Isso significa que podemos dividir a categoria de coisas sobre as quais não temos completo controle em duas subcategorias: Coisas sobre as quais não temos controle nenhum (como o clima ou se o sol irá nascer amanhã) E coisas sobre as quais temos algum mas não completo controle (como vencer uma partida de tênis). Existem coisas sobre as quais temos completo controle, coisas sobre as quais não temos nenhum controle, e coisas sobre as quais temos algum controle mas não completo. Todas as “coisas” que encontramos na vida irão cair em uma destas categorias.


Em sua afirmação a respeito da dicotomia do controle, Epiteto sugere, de maneira sensível, que estamos nos comportando de maneira tola se perdermos tempo nos preocupando sobre coisas que não dependem de nós; justamente por não dependerem de nós, nos preocuparmos é fútil.


Nós devemos então nos preocupar com coisas que dependem de nós, afinal nós podemos seguir passos para que elas aconteçam ou para evitar que elas aconteçam. Ao afirmar a dicotomia do controle como uma Tricotomia, então, nós devemos reafirmar seu conselho a respeito daquilo que é ou não é sensível a nos preocuparmos.


Para começar, faz sentido para nós aplicar tempo e energia nos concentrando em coisas sobre as quais temos completo controle. Nestes casos, nossos esforços terão resultados garantidos. Perceba, também, que por causa do grau de controle que temos sobre estas coisas, elas irão geralmente requerer relativamente pouco tempo e energia para que nós tenhamos certeza de que se realizarão.


Nós seríamos tolos em não nos preocuparmos com estas coisas.


Quais são as coisas sobre as quais temos completo controle?


Na passagem citada a seguir, Epiteto diz que temos completo controle sobre nossas opiniões, impulsos, desejos e aversões.


Eu concordo com Epiteto sobre termos completo controle sobre nossas opiniões,com tanto que seja construído propriamente o significado de opinião - mais sobre isso em um momento. Tenho restrições, no entanto, sobre incluir nossos impulsos, desejos, e aversões na categoria de coisas sobre as quais temos completo controle. Eu colocaria estas coisas na categoria de coisas sobre as quais temos algum controle mas não completo, ou, em alguns casos, na categoria de coisas sobre as quais não temos controle algum. Permitam me explicar o motivo.

Suponhamos que eu esteja andando por um casino e, ao passar por uma mesa de roleta, detectei em mim um impulso de fazer uma aposta de que o número 17 irá aparecer na próxima rodada da roleta.


Eu tenho um grau de controle sobre agir baseado neste impulso mas nenhum controle sobre o momento em que ele surge em mim. (Se algo for realmente for um impulso,não podemos impedir que o sintamos.) O mesmo pode ser dito de muitos (mas não todos) dos meus desejos. Quando estou de dieta,´por exemplo, posso repentinamente me encontrar desejando uma tigela de sorvete. Eu tenho um grau de controle  sobre atender ou não este desejo mas nenhum controle a respeito de impedir que este desejo surja espontaneamente em mim. Da mesma forma, não posso impedir detectar em mim uma aversão por aranhas. Eu posso, através de um ato de força de vontade, pegar e manipular uma tarântula apesar de minha aversão, mas não posso impedir o fato de não gostar de aranhas.


Estes exemplos sugerem que Epiteto está errado em incluir nossos impulsos, desejos e aversões  na categoria de coisas sobre as quais temos completo controle. Eles na verdade pertencem a categoria de coisas sobre as quais temos algum controle mas não completo, ou em alguns casos, a categoria de coisas sobre as quais não temos controle algum. Mas dito isto, devo acrescentar que é possível que algo importante tenha sido perdido durante a tradução -  ao falar sobre os impulsos, desejos e aversões, Epiteto tinha em mente algo diferente do que nós temos.


O que, então, são as coisas sobre as quais temos completo controle? Para começar, acredito que temos completo controle sobre os objetivos que criamos para nós. Tenho completo controle, por exemplo, a respeito do meu próximo objetivo ser o de me tornar o próximo Papa, um milionário, ou um monge em um monastério Trapista. Tendo dito isto, devo acrescentar que apesar de ter completo controle sobre os objetivos que escolho, eu obviamente não tenho controle completo sobre alcançar nenhum deles; alcançar os objetivos que escolhi tipicamente cai na categoria de coisas sobre as quais tenho algum controle mas não completo.


Outra coisa coisa que penso termos completo controle é sobre nossos valores. Nós temos completo controle, por exemplo, sobre se valorizamos fama e fortuna, prazer, ou tranquilidade. Se vivemos ou não de acordo com nossos valores é, claro, uma questão diferente: É algo sobre o qual temos algum controle mas não completo.


Epiteto, como podemos ver, pensava que nós temos completo controle sobre nossas opiniões. Se com opiniões ele tinha em mente nossas opiniões sobre quais objetivos devemos escolher para nós ou nossa opinião sobre os valores das coisas, então eu concordo com ele que nossa opinião “depende de nós”.


Certamente fará sentido para nós gastar tempo e energia escolhendo objetivos para nós mesmos e determinando nossos valores. Fazer isso irá nos tomar relativamente pouco tempo e energia.Além disso, a recompensa por selecionar nossos objetivos e valores de maneira apropriada pode ser enorme. Realmente, Marco Aurélio pensava que a chave para se ter uma boa vida é valorizar as coisas que sejam genuinamente valiosas e sermos indiferentes em relação às coisas que não possuem valor. Ele adiciona que pelo fato de termos sob nosso poder dar valor às coisas, nós temos sob nosso poder a possibilidade de viver uma boa vida. De maneira geral, Marco Aurélio pensava que formando opiniões de maneira apropriada - ao dar as coisas seu valor correto - nós podemos nos livrar de muito sofrimento, angústia, e ansiedade e poderemos então atingir a tranquilidade que os estoicos buscam.

Além de ter completo controle sobre nossos objetivos e valores, Marcos nos indica que temos completo controle sobre nosso caráter. Nós somos, ele diz, os únicos que podem impedir a nós mesmos de alcançar a bondade e a integridade. Nós temos completamente sob nosso poder, por exemplo, nos prevenir que vício e da indecência encontrem uma casa em nosso espírito. Se tivermos o raciocínio lento, não estará sob nosso poder nos tornarmos um estudioso, mas não existe nada que nos impeça de cultivarmos um grande número de outras qualidades, incluindo a sinceridade, dignidade, industriosidade, e a sobriedade; não existe nada que possa nos impedir de tomar atitudes para frear nossa arrogância, nos elevar acima dos prazeres e dores, de parar de almejar popularidade, e de controlar nosso temperamento.


Além disso, temos sob nosso poder parar de resmungar, ser considerável e franco, ser modos e palavreado amenos, e nos conduzir “com autoridade”. Estas qualidades, Observou Marco, podem ser nossas neste exato momento - se escolhermos que elas sejam. Agora vamos voltar nossa atenção de volta a segunda ramificação da tricotomia do controle, sobre as coisas sobre as quais não temos controle nenhum, como o clima ou se o sol irá nascer amanhã. È obviamente tolo para nós perder tempo e energia nos concentrando em tais coisas. Por não termos controle sobre tais coisas em questão, qualquer tempo ou energia que gastamos nos preocupando com estas coisas não terá efeito nos resultados destes eventos e portanto será um desperdício de tempo e energia, r, como Marco Observou, “Não vale a pena fazer coisas sem sentido.”


Isso nos leva até a terceira ramificação da tricotomia do controle: Aquelas coisas sobre as quais temos algum controle mas não total. Considere por exemplo, vencer uma partida de tênis. Como vimos, apesar de não podermos ter certeza da vitória da partida, podemos esperar, através de nossas ações, que possamos afetar os resultados; nós portanto temos algum mas não completo controle. Dadas estas coisas, iria um estoico praticante desejar se preocupar com tênis? Em particular, deveria ele perder tempo e energia tentando vencer partidas?


Podemos pensar que ele não deva. Pelo fato de que os estoicos não tem completo controle sobre os resultados de uma partida de tênis, pois sempre existe a chance de uma derrota, mas se ele perder, ele ficará entristecido, e sua tranquilidade será abalada. Uma forma de agir mais segura para um estoico, então,seria se abster de jogar tênis. Pensando de maneira similar, se ele valoriza sua tranquilidade, ele então não deveria querer que sua esposa o amasse, pois existe a chance de, independente do que ele faça, ela não o ame, e ele terminaria com o coração partido. Da mesma forma, ele não deveria querer que seu chefe lhe dê um aumento; existe nisso uma chance, que independente do que ele faça, seu chefe não lhe dê, e ele ficará desapontado.

SEU CHEFE
Na verdade, seguindo essa linha de raciocínio um pouco além, o estoico não deveria nem ter pedido sua esposa em casamento ou ao seu chefe que o contratasse, já que eles poderiam ter recusado. 


Alguém pode concluir,em outras palavras, que os estóicos irão se recusar a se preocupar com coisas sobre as quais eles têm algum mas não completo controle. Mas pelo fato de que muitas das coisas que surgem em nosso dia a dia são coisas deste tipo, por essa lógica os estóicos não se preocupariam com muitos aspectos da vida cotidiana. Eles irão então ser passivos, retraídos e sem ação. Eles então irão se assemelhar a indivíduos deprimidos que nem sequer tem capacidade de se levantar de suas camas pela manhã.


Antes que sucumbamos a esta linha de argumentação, no entanto, nós devemos nos lembrar que os estoicos não são passivos e retraídos.


Ao contrário, eles são completamente engajados em relação a vida cotidiana. A Partir disso, um dessas duas conclusões se seguem: Ou os estoicos são hipócritas que não agem de acordo com seus princípios, ou nós temos, no argumento acima, de alguma forma mal interpretado os princípios estoicos. Irei então argumentar a favor desta segunda alternativa.


Lembre-se que dentre as coisas sobre as quais temos completo controle estão os objetivos que escolhemos para nós. Penso que quando um estoico se preocupa com coisas às quais ele tem apenas algum controle mas não total, como vencer uma partida de tênis, ele será muito cuidadoso a respeito dos objetivos que escolhe para si. Em particular, ele será cuidadoso em escolher objetivos internos ao invés de objetivos externos. Portanto, seu objetivo em vencer uma partida de tênis, não será sobre vencer a partida (algo externo, sobre o qual ele tem apenas controle parcial) mas sim sobre jogar com o melhor de suas habilidades durante a partida (Algo interno, sobre o qual ele tem completo controle). Ao escolher este objetivo, ele irá se livrar da frustração ou desapontamento se perder a partida: Afinal desde que não era seu objetivo vencer a partida, ele não terá falhado em atingir seu objetivo, com tanto que tenha dado o seu melhor. Sua tranquilidade não será perturbada.


Vale a pena observar a este ponto que jogar com o melhor de nossas habilidades em uma partida de tênis e vencê-la estão causalmente conectados. Em particular, que maneira melhor existe de vencer uma partida de tênis que jogando com o melhor de nossas habilidades? Os estoicos perceberam que seus objetivos internos afetam sua performance externa, mas também perceberam que os objetivos que conscientemente escolhemos para nós mesmos, podem ter um dramático impacto em nosso estado emocional subsequente. EM particular, se nós conscientemente escolhemos vencer uma partida de tênis como nosso objetivo, nós discutivelmente não aumentamos nossa chance de vencê-la.


De fato, nós podemos até diminuir nossas chances: Se começar a parecer, logo no início, que vamos perder a partida, podemos nos tornar perturbados, e isso poderá afetar negativamente nosso jogo ao longo da partida, desta maneira diminuindo nossas chances de vitória. Além disso, tendo como objetivo vencer a partida, nós aumentamos de maneira dramática nossas chances de nos chatearmos com o resultado. Se, por outro lado, nós escolhemos como nosso objetivo jogar o melhor de nossas habilidades, nós discutivelmente não diminuímos nossas chances de vencer a partida, mas sim diminuímos nossas chances de nos chatearmos com o resultado da partida.


Portanto, internalizar nossos objetivos em relação ao tênis pode não ser inteligente: Mirar nosso objetivo em jogar o melhor de nossas habilidades tem uma vantagem - reduzir a angústia emocional no futuro -  com pouca ou nenhuma desvantagem.


Quando se trata de outros, e mais significantes aspectos de sua vida, o estóico irá da mesma forma ser cuidadoso na escolha dos objetivos que impõe para si mesmo.


Os estoicos poderiam recomendar, por exemplo, que eu me preocupe se minha esposa me ama, mesmo que isso seja algo sobre o qual eu tenha apenas controle parcial. Mas caso eu realmente me preocupe com isso, meu objetivo não deve ser o objetivo externo de fazer com que ela me ame; não importa o quão duro eu tente, poderei falar em alcançar este objetivo e como resultado ficar chateado. Ao invés disso meu objetivo deve ser interno: me comportar, ao máximo de minha capacidade, de uma maneira amável. Similarmente, meu objetivo a respeito do meu chefe deve ser o de fazer meu trabalho o melhor que minhas habilidades permitam.


Estes são objetivos que posso alcançar independentemente de como minha esposa ou meu chefe irão subsequentemente reagir aos meus esforços. Ao internalizar seus objetivos cotidianos, o estoico é capaz de preservar sua tranquilidade enquanto lida com coisas sobre as quais ele apenas tem controle parcial.


É especialmente importante, penso eu, para nós internalizar nossos objetivos se estivermos em uma profissão em que a “falha externa” é comum. Pense, por exemplo, sobre um escritor aspirante. Para obter sucesso em sua profissão de escolha, ele deve lutar e vencer duas batalhas: Ele deve dominar sua escrita, e deve lidar com a rejeição de seu trabalho. - muitos escritores ouvem “Não” muitas, muitas e muitas vezes antes de ouvir um “Sim.” Destas duas batalhas, a segunda é, para a maioria das pessoas, a mais difícil. Quantos possíveis aspirantes a escritores, podemos imaginar, não enviam seus manuscritos que escreveram por causa do pavor em ouvir a palavra “Não”? E quantos destes mesmos aspirantes, ao ouvir “Não” uma vez, foram esmagados por esta experiência e nunca reenviaram seus manuscritos novamente?


Como pode um aspirante a escritor reduzir o custo psicológico da rejeição e ao mesmo tempo aumentar suas chances de sucesso?


Internalizando seus objetivos a respeito a ser um escritor. Ele deve ter como objetivo não algo externo sobre o qual tem pouco controle, como ter seu livro publicado, mas algo interno sobre o qual ele tem um controle considerável, como o quão duro ele trabalha em seu manuscrito ou quantas vezes ele o envia em um determinado período de tempo. Eu não quero dizer que ao internalizar seus objetivos desta maneira ele pode eliminar completamente a chateação quando receber uma carta de rejeição (ou, como acontece as vezes, quando não receber nenhuma resposta sobre o trabalho que enviou). Isso pode, no entanto, diminuir substancialmente sua chateação. Ao invés de se deprimir por um ano antes de reenviar seu manuscrito, ele pode ter seu período de depressão reduzido para uma semana ou até mesmo um dia, e esta mudança irá dramaticamente aumentar a chance dele de ter seu manuscrito publicado.


Os leitores poder reclamar que o processo de internalização de nossos objetivos não é nada mais que um jogo mental. O objetivo real dos aspirantes a escritores é obviamente ter seus livros publicados - Algo que eles sabem muito bem - e ao os aconselharmos a internalizar seus objetivos com respeito a seus livros, estou fazendo um pouco mais do que aconselhá-los a fingir que ter seus livros publicados não são seus objetivos finais.


Em resposta a esta reclamação, posso apontar que, para começar, pode ser possível para alguém, ao passar algum tempo praticando a internalização de seus objetivos, desenvolver a habilidade de não olhar além de seus objetivos internalizados - que no caso podem vir a se tornar seus objetivos “reais”. Além disso, mesmo que o processo de internalização seja um jogo mental, é um jogo mental útil. Medo de falhar é um traço psicológico, então é pouco surpreendente que ao alterar nossa atitude psicológica a respeito de “falhar” (ao escolher cuidadosamente nossos objetivos), nós possamos afetar o nosso grau de medo.


Os estoicos, como expliquei, eram muito interessados em psicologia humana e não completamente avessos a utilização de “truques” psicológicos para superar certos aspectos da psicologia humana, como a presença de nossas emoções negativas.


Na verdade, a técnica da visualização negativa descrita em capítulos anteriores é pouco mais que um truque psicológico: Ao pensar em como as coisas podem ser piores, nós diminuímos ou revertemos o processo de adaptação hedônica. Mesmo assim isso é um truque de efeito singular, se nosso objetivo é apreciar o que já temos ao invés de termos essas coisas como garantidas, e se nosso objetivo for sentir alegria ao invés de se sentir cansados a respeito da vida que temos e do mundo que habitamos.


Tendo dito tudo isso a respeito da internalização dos objetivos, deixem me fazer uma confissão. Em meus estudos sobre Epiteto e os outros estóicos, encontrei poucas evidências de que eles advogavam a internalização dos objetivos da maneira como descrevi, o que levanta questões a respeito se de fato os estóicos faziam uso da técnica de internalização. Mesmo assim, eu atribui a técnica a eles, na medida em que internalizar os objetivos de alguém é a coisa óbvia a se fazer se alguém deseja, como os estóicos desejavam, se concentrar apenas com as coisas sobre as quais temos controle e se alguém deseja manter sua tranquilidade enquanto se empenha em projetos que podem falhar (no senso externo da palavra).


Ao falar sobre a internalização dos objetivos, então, posso ser culpado por adulterar ou atualizar o Estoicismo. Como irei explicar  futuramente, não tenho escrúpulos em fazer isso.


Agora que entendemos a técnica da internalização de nossos objetivos, estamos em posição de explicar o que seria um comportamento paradoxal por parte dos estóicos. Ao mesmo tempo em que eles valorizam a tranquilidade, ele s sentem com o dever de participar ativamente da sociedade em que vivem. Mas tal participação claramente colocava a tranquilidade deles em perigo. Podemos suspeitar, por exemplo, que Catão poderia ter aproveitado uma vida bem mais tranquila se não tivesse se sentido compelido a lutar contra a ascensão de Júlio César - se ao invés tivesse passado seus dias, digamos, em uma livraria, lendo os estóicos.


CATÃO
Eu gostaria de sugerir, no entanto, que Catão e os outros estóicos encontraram uma maneira de manter suas tranquilidades apesar de seus envolvimentos com o mundo ao redor deles: Eles internalizaram seus objetivos. Seus objetivos não eram mudar o mundo, mas fazer o melhor para buscar certas mudanças. Mesmo que seus esforços tenham provado ser inefetivos, eles poderiam mesmo assim descansar sabendo que alcançaram seus objetivos: Eles fizeram o que podiam fazer.


Um estóico praticante irá manter a tricotomia do controle firmemente em sua mente enquanto ele segue por suas atividades cotidianas. Ele irá fazer uma espécie de triagem na qual ele dividirá os elementos de sua vida em três categorias: Aquelas sobre as quais ele tem completo controle, aquelas sobre as quais ele só tem controle parcial, e aquela ssobre as quais ele não tem controle nenhum. As coisas na terceira categoria - as quais ele não tem nenhum controle - ele irá deixar de lado como coisas que não valem a pena nos causar preocupação. Ao fazer isso, ele irá se livrar de uma boa parte de sua ansiedade desnecessária.


Ele irá então se preocupar com as coisas sobre as quais ele tem completo controle e com as coisas que ele tem controle parcial; E quando ele se preocupar com as coisa desta última categoria, ele será cuidadoso ao estabelecer objetivos internos ao invés de externos para si mesmo e então poderá eliminar consideravelmente a quantidade de frustrações e desapontamentos.



--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Este texto se trata de uma tradução

Nenhum comentário:

Postar um comentário

*OBSERVAÇÕES SOBRE OS COMENTÁRIOS

-Os comentários e opiniões são de total responsabilidade de quem os postou. Tenha moderação e educação para não se foder depois.
-Lembre-se que vivemos na era do mimimi e do "Vou te processar!".